A Região Sul da Ordem dos Engenheiros entregou, dia 17 de Dezembro, o Prémio Inovação Jovem Engenheiro 2002. O galardão, que vai já na 12ª Edição, é atribuído anualmente e visa contribuir para a elaboração e divulgação de trabalhos inovadores, nas áreas científico-tecnológicas inerentes às diversas especialidades reconhecidas pela Ordem, produzidos por Engenheiros com idade inferior a 31 anos.

A cerimónia de entrega de prémios decorreu no Auditório da Sede da Ordem dos Engenheiros e foi presidida pelo Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Prof. Pedro Lynce. Os galardoados deste ano foram:

  • Eng. João Miguel Magalhães, distinguido com o 1º Prémio (Colégio de Engenharia Electrotécnica);

  • Eng. Eurico Almeida, galardoado com o 2º Prémio (Colégio de Engenharia Mecânica);

  • Eng. Francisco A. Monteiro, distinguido com o 3º Prémio (Colégio de Engenharia Electrotécnica).

Esta iniciativa teve o patrocínio de:

Ministério da Ciência e do Ensino Superior;

Fundação para a Ciência e Tecnologia;

Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

O Júri foi presidido pelo Prof.  Fernando Ramôa Ribeiro, presidente da FCT.

O trabalho de João Miguel Magalhães intitulado "Acesso Universal a Conteúdo Multimédia com base na Norma MPEG - 7", que se distingiu pela sua originalidade, actualidade e aplicabilidade prática, permitiu o desenvolvimento de uma plataforma capaz de distribuir versões do mesmo conteúdo multimédia a terminais com características diversas. Esta plataforma pode, por exemplo, a partir de uma base de dados de fotografias de alta definição, fornecer estas imagens com características adaptadas a terminais tão diferentes quanto um computador pessoal ou um telemóvel (de terceira geração).

O segundo lugar do Prémio Inovação Jovem Engenheiro 2002 foi atribuído a Eurico Almeida pela invenção duma "cadeira destinada a realizar a manobra de Epley". Esta cadeira destina-se à utilização clínica, em otorrinolaringologia, no tratamento duma patologia muito frequente designada Vertigem Paroxística Posicional Benigna. Esta nova cadeira destina-se à automatização do processo de tratamento mais comum, até agora realizado de forma manual pelos médicos. Designado por manobra de Epley, o tratamento consiste na imposição duma sequência de movimentos à cabeça do paciente, de forma a reposicionar correctamente os cristais no ouvido interno. Este invento, para o qual está pendente um pedido de registo de patente cobrindo os Estados Unidos da América e os países da União Europeia, poderá dar origem à introdução da robotização nas cadeiras usadas em algumas terapêuticas de otorrinolaringologia.

Francisco Monteiro recebeu o terceiro prémio pelo trabalho "Redução da Complexidade de recepção de CPM em Sistemas de Comunicação Sem Fios". Este trabalho permitiu-lhe desenvolver um novo tipo de receptor para sinais modulados em fase contínua (CPM). Esta modulação destaca-se pelas boas eficiências espectrais e de potência e por ser imune a amplificações não lineares. Porém o seu receptor óptimo é demasiado complexo. O receptor criado é muitíssimo menos complexo, conseguindo-se isso com um desempenho muito próximo do receptor óptimo. O receptor criado é composto por 3 blocos com redução de complexidade que recorrem às propriedades dos próprios sinais que permitiram reduzir o hardware necessário a apenas 2 integradores em vez das centenas usuais, substituindo-o maioritariamente por processamento digital de sinal baseado em álgebra matricial simples. Foram definidas soluções de esquemas CPM de elevado ganho para uso conjunto com o receptor. Como caso particular da família de receptores criada menciona-se o receptor quase-óptimo para MSK (usada no GSM).

O Júri atribuiu ainda uma Menção Honrosa a Filipe Campelo, membro estagiário do Colégio de Engenharia Mecânica, pelo trabalho "Análise e Avaliação do Risco de Acidente de trabalho na Continental Mabor".

 

Depoimento emitido:

A distinção atribuída significou para mim fundamentalmente um reconhecimento do trabalho realizado. O trabalho que apresentei foi resultado de um esforço de aplicação de ideias que, essas sim, até serem claras, atearam momentos dolorosos de procura de soluções. Esses momentos são ultrapassados de uma forma mais suportável devido aos amigos que nos apoiam, acreditando em nós.

Com o prémio parece ter surgido alguma justificação para os muitos dias em que parecia difícil provar que “se fez alguma coisa”. A procura de uma ideia, da solução nova, não conduz a momentos facilmente justificáveis como pertencentes a uma “vida produtiva com resultados imediatos”.

Pensei que apenas a busca intelectual conduziria a horários bizarros de vida. Nessa altura não antevia que a fase de implementação, de análise, verificação e observação dos resultados, também ela pode conduzir a estados mentais de alienação cronológica. Assim, há que agradecer a tolerância dos mais próximos aos meus horários intoleráveis durante todas a fases do trabalho.

Olhando para trás recordo dois momentos de grande emoção: o primeiro quando a ideia para o receptor surgiu; o segundo quando observei os resultados da sua aplicação e que provavam que o que havia concebido fazia sentido. O prazer da criação de uma solução elegante é grande, mas ver que ela conduzia a uma boa solução de engenharia elevou esse prazer de uma forma surpreendente. A dúvida face aos resultados que surgiam nos testes ao receptor nunca foi eliminada do espírito sem confirmações recorrentes. Afastava-me, voltava, e o resultado ainda estava ali; não era irreal. Uma alegria final seria ver a solução proposta no trabalho ser implementada em larga escala na indústria de telecomunicações.

Não é uma descoberta recente que a inovação é o cerne do progresso. O empenho da Região Sul da Ordem dos Engenheiros nesta iniciativa nacional que premeia a inovação dos jovens engenheiros é merecedora de um enfático aplauso.

  Francisco António Taveira Branco Nunes Monteiro